Toda história de inserção no mundo das letras, positiva ou negativa, começa com o nascimento e a minha não foi diferente. Nascida em um berço humilde, posso considerar-me uma pessoa privilegiada pelos regalos afetivos e pelo incentivo à aquisição de conhecimentos.
O amor aos estudos e a valorização da leitura sempre estiveram presentes em nossas conversas, desde a mais tenra idade. As dificuldades enfrentadas no dia-a-dia não foram empecilhos em nossa história, pois, se faltava dinheiro para uma revista em quadrinhos, sobrava um tempinho para irmos à Biblioteca Municipal e para algumas histórias contadas ao anoitecer.
Um misto de alegria e saudosismo invade a minha alma ao recordar a primeira vez que pisei no assoalho da Biblioteca. Guiada pelas mãos de papai entreguei a minha foto 3X4 e os documentos necessários para que fosse feita a minha inscrição e, sob o n.º 1263, saí de lá carregando o primeiro dos muitos livros que li durante toda a infância, adolescência e vida adulta.
Quando cheguei ao Grupo Escolar não houve sofrimento e tampouco traumas. A afetuosidade com que fomos recebidos pela primeira Professora (com P maiúsculo porque ela merece toda a honra e glória por seu amor e dedicação) fez-me acreditar que estava no lugar certo e que tudo caminharia bem por ter na imago desta pessoa, uma substituta temporária da minha família. Cecília, ou melhor, Dona Cecília, esse é o seu nome.
Embora vivêssemos na pujança do behaviorismo, esta doce e encantadora senhora mostrou-nos que nem só de exercícios de prontidão e cópias se forma um Homem. Enquanto a maioria dos professores se refestelava com o merecido intervalo do recreio, nós brincávamos (professora e alunos) de batata–quente e, com a posse da batata nas mãos tínhamos que responder as mais variadas perguntas.
Ao final de cada aula Dona Cecília retirava um livro de sua enorme caixa listrada e brindava-nos com uma história e eu, que já havia me encantado com o poder das letras, passei a amá-la e admirá-la com a mesma intensidade de um membro da família. Findo o ano letivo ela nos presenteou com um livro e até hoje pareço ouvi-la dizer: - Este livro é para você ler quando completar 12 anos!
Esta foi a grande tortura da minha infância, esperar cinco longos anos para ler a Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga. Somente a maturidade fez-me compreender a importância da espera e o domínio do instinto. Deliciei-me com o livro e encontrei nos conflitos infanto-juvenis da personagem Raquel as respostas para os meus próprios conflitos.
Passaram-se os anos e ainda sinto em seus abraços a mesma afetuosidade daqueles tempos, cada vez que nos encontramos. Sim, eu sou pessoa privilegiada porque eu pude apresentá-la ao meu filho e dizer com orgulho: - Esta foi a minha primeira Professora!
É óbvio que nem tudo foram flores no meu período estudantil. Tal qual Freud, também senti a ambivalência – um misto de admiração e raiva - no relacionamento professor e aluna pelas inúmeras atividades e leituras descontextualizadas que me foram impostas ao longo dos anos, que nada tinham em comum com a minha história. Mas o ser humano é dotado de uma capacidade de adaptação fenomenal e tem na resiliência, uma virtude. Sobrevivi!!
Ironia do destino ou mera causalidade (embora eu não acredite na causalidae), mais uma vez me encontro com as peripécias de Raquel e sua bolsa amarela, agora, através do meu filho que tem nesse livro a leitura obrigatória do semestre.
Verdade seja dita, ler e gostar de ler é um aprendizado e, como pais e ou futuros pais podemos ajudar nossos filhos nesse percurso nem sempre tranquilo.
LIVROS DE CABECEIRA
Quem me acompanha desde o Pluma sabe que não sou e dificilmente serei adoradora de romances ficcionais. Exceção à Bridget Jones (pelo eterno e fundamentado desejo de emagrecer), O mundo de Sofia (porque falta alguns parafusos em mim) e mais uns dois ou três. Há, tem também o romance psicografado pelo velho Chico, o livro mais lindo que eu li na minha vida: "Há Dois Mil Anos".
Há alguns anos desenvolvi uma certa obsessão por Fritjof Capra um físico austríaco que promove como ninguém a educação ecológica. Mas devo confessar que surtei um bocado quando caiu em minhas mãos o seu primeiro livro, O Tao da Física, escrito nos anos 70 e lido por essa que vos escreve em meados de 95. Naquele momento pensei em desistir tamanha a dificuldade de compreensão, mas resisti e mergulhei em cada linha, mesmo que tivesse que relê-la uma centena de vezes. Depois veio O Ponto de Mutação e achei a leitura um pouco mais digerível, afinal, nem precisei relê-lo, rsrsrs...
Mas a minha idolatria por Capra se deu à partir da leitura de Pertencendo ao Universo, um livro que descreve o bate-papo entre um físico (o próprio) e o monge beneditino David Steindl-Rast.
Nesta obra, Capra e David Steindl-Rast, investigam os paralelismos entre o pensamento do 'novo paradigma' na ciência e na religião, e, juntos, oferecem uma visão notavelmente compatível do universo - um modelo holístico e profundo baseado numa percepção da complexa natureza, da verdade e do mito da objetividade. Com diálogos vigoros e cheios de vida, projetam novas luzes sobre as conexões entre a ciência e a experiência de Deus.
Há de se observar que tanto Capra quanto Steindl-Rast não se prendem em nenhuma religião e sim, na supremacia da Criação e no quanto o Celestial pode estar presente "num sorriso de um golfinho". Coisa de doido?! Não!!! Coisa de quem acredita no poder da vida, na magia da Criação e principalmente no quanto estamos inseridos nela. Simplesmente fabuloso!!
Depois vieram outros tantos, tais como o Teia da Vida e Alfabetização Ecológica. Agora a bola da vez é "Sabedoria Incomum" que estou louca para ler assim que acabar o último módulo da minha Pós. É isso aí, Issaaaaa,Huhuuuuú, a tortura está acabando, rsrsrsrs... e só começarei o TCC após a leitura deste tão esperado livro porque não sou de ferro e preciso me preparar espiritualmente e daí sim, me afundar na psicanálise, rsrsrs...
Para quem não conhece Capra, vai aí uma imagem deste belo homem, nascido em 01/02. Descobri a pouco que além da consciência ecológica temos algo mais em comum. Será que alguém adivinha?! Yesssssssss, somos aquarianos do mesmo dia e decanato (somos regidos por Saturno e Urano) e portanto igualmente visionários (Modesta!!) e loucos!! Não é a toa que eu amo esse cara, rsrsrs... e não sei porque o maridex destesta, rsrsrsrs...
É isso aí, o post está longo demais e é hora de levantar poeira porque eu tenho que encarar 30 páginas de linguística, aff...
Beijão.
Que bom vê-la de volta, obrigada por ter ido me visitar e avisar sobre o seu retorno.
ResponderExcluirUma delícia o bloguinho novo, li atentamente os dois primeiros posts e adorei conhecer um pouco mais de você! Beijo grande!